Após o 11 de setembro, o interesse e a curiosidade pela
cultura islâmica cresceram no ocidente, gerando, inclusive, um grande número de
conversões. Mas ainda há bastante preconceito em torno de alguns costumes,
principalmente em virtude de diferenças marcantes em relação à cultura
ocidental. Para discutir e esclarecer essas diferenças, o USP Analisa conversa
nesta semana com a docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto Francirosy Campos Barbosa.
Ela explica que, antes de qualquer discussão sobre o tema, é
importante demarcar o significado da palavra “Islã”. “Eu não uso ‘islamismo’
porque esse é um termo que a gente geralmente usa na academia, tanto francesa
quanto inglesa, para se referir ao Islã político. Eu tenho adotado a escrita de
‘Islam’ porque eu uso a escrita em árabe justamente porque a tradução significa
‘paz’. Se uma religião tem na sua raiz a palavra ‘paz’, como pode pregar a
guerra, a violência?”, questiona.
Segundo a docente, grupos extremistas como o ISIS ou o Boko Haram seguem um Islã literalista, que não corresponde à
maioria dos muçulmanos. “Alguém que lê o alcorão em português está lendo
significados do alcorão, porque muitas palavras em árabe não existem em
português. É uma adaptação às vezes até grosseira, mas é uma tentativa de
interpretar o que está nos textos. Essas são aquelas pessoas que vão pegar o
alcorão ao pé da letra e achar que estão praticando a religião. Eu me lembro de
uma ação do Daesh [outra denominação do ISIS] queimando uma pessoa. É proibido
islamicamente queimar uma pessoa, não existe essa prática. Tudo o que eles
fazem é extremamente condenável”.
Francirosy também lembrou a interpretação equivocada que a
cultura ocidental faz da mulher muçulmana, principalmente em relação ao uso do
véu. “A gente quer que as nossas demandas feministas sejam as mesmas das
mulheres do Oriente Médio. Que as demandas de mulheres brancas sejam as mesmas
das negras ou das nordestinas. Não são e não devem ser. Eu sou feminista, mas
não quero dar o lugar de fala para uma mulher de lenço porque ela é oprimida.
Mas essa atitude é uma forma de opressão também”, diz ela.
A entrevista vai ao ar na Rádio USP Ribeirão Preto nesta sexta (15), a
partir das 12h, e na Rádio USP São Paulo na quarta (20), a partir das 21h. O
USP Analisa é uma produção conjunta da USP FM de Ribeirão Preto (107,9 MHz) e
do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP.