As tendências de mudança na matriz energética mundial e
grandes escândalos políticos envolvendo a Petrobrás trazem incertezas para o
mercado de petróleo. Para avaliar a situação atual desse mercado no país e
debater cenários futuros, o USP Analisa desta semana conversa com o engenheiro de
petróleo Dalmo de Souza Amorim Junior.
Ele acredita que uma mudança mais efetiva na matriz
energética está condicionada à real geração de lucros, que ainda não está
estabelecida de fato. “Ninguém produz para ter prejuízo. Se o petróleo dá
lucro, mesmo o preço estando baixo, muitos investimentos em uma nova matriz
energética ficam inviabilizados. A energia solar é cara, a energia eólica é
cara, mas à medida que começa a haver desinteresse na produção de petróleo como
fonte de energia ou declínio nas reservas mundiais, alguma direção vai ter que
ser tomada”.
Dalmo também ressalta que as dificuldades que o mercado
brasileiro enfrenta atualmente ocasionaram um abandono do investimento em
cursos de graduação e pós-graduação e em pesquisa por parte das universidades.
Mas, para ele, quando a crise passar, a necessidade de mão de obra qualificada
nesse setor vai aumentar.
“Quando os alunos me perguntam se compensa investir na
carreira de engenheiro de petróleo, eu digo o seguinte: desde que me formei, em
1979, já vi cinco ou seis crises do petróleo e perdi o emprego em todas. O que está
se vendo é um hiato. Quando vier a retomada, os alunos vão encontrar um emprego
novamente. Nunca é imediato, mas pode ser que em um ou dois anos a gente veja
essa retomada”.
O engenheiro acredita ainda em uma breve recuperação da
Petrobrás. “É uma empresa com condições de voltar a crescer e se tornar ainda
mais rentável. Ela está voltando seus investimentos para duas coisas: formar
caixa com o objetivo de pagar dívidas em dólar que vencem em 2019 e 2020 e
deixar de investir em perfuração e exploração. Depois que a Petrobrás se
desfizer de ativos de alto custo e mudar o perfil dos empregados, adequando-se
à nova legislação trabalhista, ela deverá voltar a ser uma empresa altamente
rentável”.
Quanto ao fim da exploração de petróleo, o engenheiro crê
que o uso desse insumo na produção de uma vasta quantidade de itens vai adiá-lo
por algumas gerações. “Se a gente olhar a curva de produção do petróleo, vê que
ela não vai acabar tão cedo. Mesmo porque o petróleo não é só diesel e
gasolina, esses produtos são apenas a destinação de uma pequena fração dos
hidrocarbonetos. Nós não vamos ver o fim do petróleo em nossas vidas, talvez
daqui a duas ou três gerações. Acho que é muito cedo para falar nisso”.
A entrevista vai ao ar na Rádio USP Ribeirão Preto nesta sexta (6), a
partir das 12h, e na Rádio USP São Paulo na quarta (11), a partir das 21h. O
USP Analisa é uma produção conjunta da USP FM de Ribeirão Preto (107,9 MHz) e
do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP.