A genética é, sem dúvida, a grande revolução deste século.
Mas com os avanços da tecnologia, que permitem mapear os genes humanos e detectar
doenças muito antes que elas se manifestem, surgem também diversos dilemas
éticos. Para abordar esses dilemas e também discutir os avanços nessa área
disponíveis no Brasil, o USP Analisa desta semana conversa com a docente do
Instituto de Biociências da USP e coordenadora do Centro de Pesquisas do Genoma
Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL), Mayana Zatz.
O CEGH-CEL atua com o aconselhamento genético a casais e
pessoas que tenham histórico de doenças genéticas na família e possam ser
portadores de mutações para elas. O procedimento envolve desde a realização de
testes genéticos até o diagnóstico e a orientação. “É muito importante deixar
claro que, embora o termo seja aconselhamento genético, a gente não aconselha. Todas
as decisões reprodutivas são tomadas pelo casal. Temos que ter certeza de que
passamos as informações para eles poderem tomar uma decisão. Mas a gente nunca
diz ‘você deve fazer isso ou aquilo’”, explica Mayana.
Segundo ela, uma das novas tecnologias desenvolvidas na área
é a edição de genes, que permite identificar uma mutação e corrigi-la ainda no
embrião. O procedimento será fundamental na prevenção de diversas doenças
genéticas. “Hoje, se você tem um embrião com uma mutação, você descarta. Não
seria muito melhor poder editar e consertar aquela mutação em vez de descartá-lo?
Mas obviamente ainda não sabemos quanto dessa tecnologia será focada só no gene
que você quer consertar, sem afetar os demais. E como vamos ter certeza disso?
Fazendo pesquisa”, ressalta.
Ela destaca ainda a importância das pesquisas em genética e
a necessidade de se investir mais na área. Para Mayana, é preciso estimular
também uma maior contribuição da iniciativa privada “Temos que batalhar uma
mudança da legislação para que a iniciativa privada possa dar mais dinheiro
para pesquisa e ter isenção fiscal, como é feito nos Estados Unidos. Mas não só
isso. O governo precisa investir mais em ciência e tecnologia, senão a gente
vai ficar sempre a reboque do primeiro mundo”, diz a pesquisadora.
A entrevista vai ao ar na Rádio USP Ribeirão Preto nesta sexta (30), a
partir das 12h, e na Rádio USP São Paulo na quarta (5), a partir das 21h. O USP Analisa é uma produção conjunta da USP FM de Ribeirão Preto (107,9 MHz) e do
Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP.