O mundo vive atualmente uma transição de uma economia linear,
focada no produto e altamente geradora de resíduos, para uma economia circular,
que busca a eficácia de todo o sistema produtivo. Para abordar as consequências
dessa mudança, o USP Analisa desta semana conversa com o docente da Escola de
Engenharia de São Carlos (EESC) da USP e coordenador do Programa de Economia
Circular da USP Aldo Roberto Ometto e o oficial de assuntos econômicos da
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD),
Henrique Pacini.
Segundo Ometto, a economia circular trabalha não apenas com
a resolução pontual de problemas, mas principalmente com soluções que aumentem
a eficácia do sistema produtivo. “O modelo de negócio com essa visão eficaz
precisa buscar formas de gerar mais valor por mais tempo e para muito mais
usuários, stakeholders e ambientes em que está inserido. A inovação não se dá somente
no contexto da relação entre a empresa e seu cliente”, explica.
Nessa nova abordagem, também muda a visão sobre os resíduos
gerados. “Eles são uma oportunidade. Você pode pegar uma cadeira quebrada, um
eletrônico usado ou o próprio resto de comida e achar maneiras de remonetizar,
de reinjetar isso no ciclo produtivo da sociedade. Não só o setor físico de
produtos pode se beneficiar, mas também espaços não utilizados. Por exemplo,
algumas empresas fecham seus galpões industriais em determinados horários. Será
que eles não poderiam ser utilizados nesses horários ao custo de aluguéis?”,
questiona Pacini.
A durabilidade dos produtos, que na economia linear é
bastante baixa para estimular o consumo, torna-se maior, pois as empresas
passam a investir em serviços para gerar valor ao consumidor, em vez de
oferecer apenas o produto. “Em vez de comprar uma impressora, cujo cartucho
acaba muito rápido, você pode ter um contrato de impressão. Em vez de carro,
ter um contrato de acesso a transporte. Isso é fantástico porque mata o
problema da obsolescência, da falta de durabilidade de alguns produtos. Uma
empresa que oferece um serviço de transporte quer que o ônibus, o carro e a van
durem mais e não quebrem”, diz Pacini.
Como coordenador do Programa de Economia Circular da USP,
Ometto explica que já existe no Brasil uma rede conduzida pela Fundação Ellen
MacArthur, instituição que trabalha na disseminação dessas práticas, envolvendo
empresas, governo e a própria universidade. “A USP é uma das sete universidades
do mundo e a única no Hemisfério Sul pioneira em economia circular. Ela tem
como missão auxiliar essa transição desenvolvendo competências e trabalhando
com a área de educação no tripé ensino, pesquisa e transferência dessas
competências”.
A entrevista vai ao ar na Rádio USP Ribeirão Preto nesta sexta (4), a
partir das 12h, e na Rádio USP São Paulo na quarta (9), a partir das 21h. O USP
Analisa é uma produção conjunta da USP FM de Ribeirão Preto (107,9 MHz) e do
Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP.