Alterações na política de saúde mental no “USP Analisa”

Embora a política de saúde mental brasileira siga um modelo bastante elogiado internacionalmente por priorizar a reinserção do paciente na sociedade, alterações determinadas em uma decisão do Ministério da Saúde no final de 2017 estão trazendo preocupação a diversos setores ligados à área. Para discutir essas mudanças, o USP Analisa desta semana conversa com a professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP Clarissa Corradi-Webster e o coordenador de Saúde Mental de Ribeirão Preto, Marcos Vinícius dos Santos.

Segundo Clarissa, é preciso entender que as políticas de saúde mental atendem à sociedade em geral e não apenas a quem sofre de algum transtorno mental. “Quando a gente pensa no sofrimento mental, pode ser o caso de uma pessoa que teve uma perda na família ou perdeu o emprego e está passando por um momento difícil, mas aquilo não recebeu o diagnóstico de transtorno mental. Então participar, por exemplo, de grupos comunitários em um serviço de atenção básica é cuidar da saúde mental e ajuda a prevenir que o sofrimento mental se transforme em um quadro mais complexo”, explica.

Santos destaca que uma das mudanças adotadas pelo Ministério da Saúde foi a inclusão de ambulatórios multidisciplinares na rede, constituídos por psiquiatras, psicólogos e enfermeiros. Apesar de complementar o sistema, ele acredita que há o risco de se retroceder ao modelo clínico tradicional. “De certa forma, o ambulatório tem um papel importante, principalmente em casos que não são tão graves a ponto de demandar a atenção de um Centro de Apoio Psicossocial (CAPS), mas que também não são tão leves para serem acompanhados apenas pela atenção básica. Porém, há o risco desse modelo ficar centrado em farmacoterapia, psicoterapia e prescindir das intervenções na comunidade. Esse modelo clínico tradicional não dá conta de toda a complexidade das questões de saúde mental”, afirma.

O USP Analisa é uma produção conjunta da Rádio USP Ribeirão Preto (107,9 MHz) e do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP.




Por: Thais Cardoso (IEA-RP)