Mesas lotadas, copos cheios, olhares curiosos e um silêncio
pouco comum em bares, mas típico de quem está profundamente interessado em um
assunto. Esse foi o cenário predominante nos três dias do Pint of Science. O
festival, que promoveu a divulgação científica em 11 países e 22 cidades
brasileiras, foi realizado entre 15 e 17 de maio e registrou um público de
aproximadamente 22 mil pessoas no Brasil. Em Ribeirão Preto, levou mais de mil
pessoas tiveram a oportunidade de interagir com pesquisadores de diversas áreas
em um ambiente bem diferente dos balcões de laboratórios e das salas de aula.
Na cidade, o evento é organizado pelo Instituto de Estudos Avançados Polo
Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP, pelo Centro de Pesquisas em DoençasInflamatórias (CRID) e pelo Centro de Terapia Celular (CTC).
A programação envolveu um cardápio variado de temas, desde o
trabalho de peritos forenses, passando por comportamentos corruptos e pelos
mistérios da consciência, até a Teoria Geral da Relatividade. Ao todo, cerca de
1120 pessoas estiveram presentes nos quatro bares que participaram do festival:
Cervejarium, Galeria Artebar, Invicta e Lund.
“O sucesso da segunda edição do Pint of Science em Ribeirão
Preto comprova o interesse da população pela ciência e a curiosidade em
aprender sobre os mais diferentes assuntos. Este ano, a organização local
conseguiu reunir uma variedade interessante de temas. As conversas foram mais
abrangentes, passando pela física, química, neurociências, política,
arquitetura e saúde. O evento também ganhou mais um bar sede, o Galeria
Artebar, aumentando de três para quatro estabelecimentos. Com isso, ampliamos
as mesas de debate de nove para 12 e proporcionamos um maior conforto para o
público. Esperamos que o evento siga crescendo com as parcerias dos bares, das
instituições de ensino e principalmente a participação dos ribeirão-pretanos e
moradores da região”, afirma o coordenador local do Pint, Eduardo Loria Vidal.
Para os pesquisadores, o festival é uma boa oportunidade de
mostrar ao público a importância do que é produzido entre os muros das
universidades. O psicólogo, pesquisador e professor Vinícius Ferreira Borges, que
está em seu segundo ano de participação, destaca o desafio de lidar, em um
mesmo local, com pessoas que se relacionam de formas diferentes com a ciência,
como observadores, consumidores, produtores e divulgadores de conhecimentos
científicos.
“Estar no ‘palco’ do Pint of Science é uma experiência
única, que testa ao limite a capacidade de comunicação do palestrante. O
público é variado, incluindo pessoas da comunidade acadêmica e não acadêmica.
Logo, é necessário que o discurso científico seja compreensível a todos,
evitando, porém, a superficialidade. Vale notar também que o ambiente do bar
está em constante mudança e movimento, sendo praticamente incontrolável. Por
fim, e talvez o mais importante, tem-se um feedback imediato do público. De
certa forma, é possível inferir sobre o grau de atenção e interesse das pessoas
presentes com base no ‘volume do bar’ e nos questionamentos suscitados. Um
ambiente relativamente silencioso durante a exposição e uma boa discussão
gerada ao final podem ser indicadores valiosos do sucesso da palestra e do
evento”, diz Borges.
Além de promover uma descontraída interação entre cientistas
e o público em geral, o Pint of Science tem outra função de destaque dentro do
contexto político e econômico atual: chamar a atenção para a importância dos
investimentos em ciência em uma sociedade que é a principal financiadora desse
trabalho por meio de impostos, mas que pouco compreende como isso produz
benefícios para ela mesma.
“Ao final de cada bate-papo no bar, não há nada mais
gratificante do que notar que o público entendeu o valor da ciência e que, sem
ciência e tecnologia, não existe desenvolvimento, não existe saúde, não existe
educação. O valor da contribuição que um festival desse porte pode propiciar ao
Brasil no atual momento que a ciência brasileira vive é outro aspecto que deve
ser ressaltado. O cenário é de cortes violentos no orçamento, fusão do
Ministério e redução de bolsas de pós-graduação. Essa desvalorização da ciência
é um reflexo da falta de comunicação entre a academia, a sociedade e a classe
política”, afirma a coordenadora nacional do festival, Natália Pasternak
Taschner.
Cenário de crescimento
Realizado no Brasil desde 2015, o Pint of Science vem
crescendo a cada ano e a versão brasileira tem ganhado destaque entre os demais
países. “A página brasileira do festival no Facebook já é a maior entre os
países que promovem o Pint. Atualmente, temos 16 mil curtidas e as publicações
da edição 2017 foram visualizadas por um milhão de pessoas”, afirma o coordenador
de mídias digitais João Henrique Rafael Junior.
Em 2018, a tendência é que o Pint of Science tenha um crescimento
ainda maior. Segundo os organizadores, o evento deve chegar a mais 50 cidades,
além das participantes deste ano, e atingir as cinco regiões brasileiras.