Muito se discute sobre o envelhecimento populacional no
Brasil, mas esse é um fenômeno que atinge uma escala global. A grande maioria
dos países está preocupada em buscar soluções para as demandas da população
idosa.
“A população do mundo todo está envelhecendo. Até 2050, por
exemplo, Austrália, China e a maior parte dos países europeus terão pelo menos
um quarto de sua população com mais de 60 anos”, afirma o professor da University of West London Hafiz Khan,
que esteve no dia 21 de novembro em Ribeirão Preto participando de uma
conferência promovida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e
pelo Centro de Estudos em Gestão e Políticas Públicas Contemporâneas (GPublic),
e apoiada pelo Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP.
Mas qual a razão do crescimento na expectativa de vida? Khan
explica que as inovações tecnológicas e médicas são as principais responsáveis.
“Com o desenvolvimento da ciência, mortes por problemas como derrames, AVC e
câncer tiveram um declínio acentuado. Como estamos conseguindo controlar nossos
principais ‘assassinos’, estamos vivendo mais. Estudos mostram que, em 1851,
metade da população morria em torno dos 40 anos. Agora, 50% ultrapassam os 70
anos. E a expectativa para os bebês de hoje é viver mais de 90 anos”, diz ele.
Segundo ele, o envelhecimento populacional desperta
interesse em muitos pesquisadores, inclusive do campo da economia, já que o
tema envolve não apenas reflexões em torno da saúde, mas também da seguridade
financeira, da distribuição de riscos na vida futura e dos recursos financeiros
das famílias para o cuidado com os idosos.
“Um estudo econômico é importante para saber como cada país
deverá alocar recursos. No Reino Unido, por exemplo, devido a um fundo de
investimentos limitado, o sistema de saúde está sobrecarregado. Já em um nível
individual, as pessoas estão preocupadas com sua seguridade financeira, com a
quantidade de dinheiro de que vão precisar para viver quando chegarem a uma
idade avançada. Em muitos países, cerca de 10% da população recebe
aposentadoria ou pensão”, afirma o professor.
Khan explica que em países em desenvolvimento, foram
introduzidos sistemas de previdência e seguridade social, mas que o número de
aposentados tem crescido muito em relação ao número de pessoas que contribuem para
esse sistema. “A força de trabalho é muito importante para que o governo
consiga manter o benefício de pessoas mais velhas”.
Ele conta ainda que em virtude disso, alguns países, como o
próprio Reino Unido, estão abolindo a idade limite para aposentadoria. O grande
desafio agora, segundo Khan, é como incentivar que as pessoas continuem
trabalhando. “Há profissões como a de enfermeira que necessitam de força
física, por isso é mais difícil manter pessoas mais velhas. Salários mais
baixos e trabalhos muito estressantes também podem afastar essas pessoas. Por
isso, alguns países contam com imigrantes para trabalhar nessas posições”, diz
ele.
Para o docente, a família ainda é a principal fonte de
cuidados com os idosos, especialmente na Ásia. Porém, esse perfil deve mudar,
já que o número de pessoas sem parceiros e sem filhos tem crescido globalmente,
o que aumenta a vulnerabilidade dentro dos lares. Estatísticas mostram que no
Japão, no ano 2000, havia quatro pessoas para dar suporte a cada maior de 65
anos. Em 2050, a previsão é de que haja apenas uma.
“Os sistemas tradicionais de suporte estão mudando conforme
aumenta o número de pessoas mais velhas. A pergunta é: quem vai pagar esse
custo? O indivíduo, a família ou o governo. Em Oxford, estamos realizando
estudos em 22 países para responder essa questão”.
De acordo com ele, a interpretação varia dependendo do país.
No Reino Unido, por exemplo, os jovens acreditam que esse custo não deve ser
repassado a eles, mas sim ao governo. Já na Índia, as pessoas entendem que essa
é uma responsabilidade própria, não do governo ou dos vizinhos.
Khan destacou ainda a preocupação com serviços de saúde
voltados aos idosos. “A força de trabalho nessa área é muito importante. Em
alguns países, há uma demanda grande, porém uma oferta pequena. Também é
preciso oferecer serviços de saúde que tenham um custo acessível a todos”,
lembra.